Em 1999 chegamos à Amazônia
para investigar a exploração ilegal de madeira. Não saímos mais. Muitas
pesquisas e ameaças de morte depois, continuamos em campo. Aliados às
comunidades locais, identificamos áreas sob pressão de desmatamento e
denunciamos os responsáveis. Lutamos para que a produção de gado e soja maiores
vetores de devastação, parem de avançar sobre a floresta. Em 2014, voltamos a
tratar do tema da exploração ilegal de madeira denunciando as fraudes no
sistema que controla o setor. Será que alguém vai fazer alguma coisa.
COPIADO
Do alto, do solo ou
da água, a Amazônia é um impacto para os olhos. Por seus 6,9 milhões de
quilômetros quadrados em nove países sul-americanos (Brasil, Bolívia, Peru,
Colômbia, Equador, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa) espalha-se
uma biodiversidade sem paralelos. É ali que mora metade das espécies terrestres
do planeta. São aproximadamente 40 mil espécies de plantas e mais de 400 de
mamíferos. Os pássaros somam quase 1.300, e os insetos chegam a milhões.
No Brasil, que
engloba cerca de 60% da bacia amazônica, o bioma cobre 4,2 milhões de
quilômetros quadrados (49% do território nacional) e se distribui por nove
estados (Amazonas, Pará, Mato Grosso, Acre, Rondônia, Roraima, Amapá, parte do
Tocantins e parte do Maranhão). Ele é muitas vezes confundido com a chamada
Amazônia Legal - uma região administrativa de 5,2 milhões de quilômetros
quadrados definida em leis de 1953 e 1966 e que, além do bioma amazônico,
inclui cerrados e o Pantanal. (Mapa:
bioma, Amazônia Legal e Limite Panamazônia)
Sob as superfícies
negras ou barrentas dos rios amazônicos, 3 mil espécies de peixes deslizam por
25 mil quilômetros de águas navegáveis: é a maior bacia hidrográfica do mundo,
com cerca de um quinto do volume total de água doce do planeta. Às suas
margens, vivem mais de 24 milhões de pessoas, incluindo mais de 342 mil
indígenas de 180 etnias distintas, além de ribeirinhos, extrativistas e
quilombolas.
Além de garantir a
sobrevivência desses povos, fornecendo alimentação, moradia e medicamentos, a
Amazônia tem uma relevância que vai além de suas fronteiras. Ela é fundamental
no equilíbrio climático global e influencia diretamente o regime de chuvas do
Brasil e da América Latina. Sua imensa cobertura vegetal estoca entre 80 e 120
bilhões de toneladas de carbono. A cada árvore que cai, uma parcela dessa conta
vai para os céus.
Grandes também são as ameaças
Maravilhas à parte, o
ritmo de destruição segue par a par com a grandiosidade da Amazônia. Desde que
os portugueses pisaram aqui, em 1550, até 1970, o desmatamento não passava de
1% de toda a floresta. De lá para cá, em apenas 40 anos, foram desmatados cerca
de 18% da Amazônia brasileira – uma área equivalente aos territórios do
Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro e Espírito Santo.
Foi pela década de
1970 que a porteira se abriu. Numa campanha para integrar a região à economia
nacional, o governo militar distribuiu incentivos para que milhões de
brasileiros ocupassem aquela fronteira “vazia”. Na corrida por terras, a
grilagem falou mais alto, e o caos fundiário virou regra
difícil de ser quebrada até hoje.
A governança e a
fiscalização deram alguns passos. Mas em boa parte da Amazônia, os limites das
propriedades e seus respectivos donos ainda são uma incógnita. Isso pode mudar
com a consolidação do CAR
(Cadastro Ambiental Rural), ferramenta de regularização ambiental
prevista no Código Florestal, mas que ainda está em processo de implementação.
Os órgãos ambientais correm atrás de recursos para enquadrar os que ignoram a
lei, mas o orçamento para a pasta não costuma ser generoso. O resultado, visto
do alto, do solo ou das águas, é impactante.
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