1. A sigla PSDB quer dizer Partido da Social Democracia
Brasileira. Só que de social democrata o partido não possui absolutamente nada.
Historicamente, a social democracia está ligada a movimentos políticos de
esquerda e embora seus programas tenham sofrido alterações dependendo da época
e do lugar, após a Segunda Guerra, passou a identificar-se com projetos de
redistribuição de riqueza através de programas sociais e investimentos
governamentais em grandes empresas. Com o advento do neoliberalismo na década
de 1980 essa doutrina entrou em crise e cedeu lugar à redução do papel do
Estado em políticas sociais e à privatização de empresas. Isso beneficiou
grandemente os conglomerados internacionais e a retirada do Estado da vida
social ampliou os bolsões de pobreza, o desemprego e reduziu o poder aquisitivo
dos trabalhadores, especialmente nos países não desenvolvidos. Quando o PSDB
chegou ao poder em 1994, no auge da crença internacional de que as ideologias
de esquerda estavam falidas, essa era a cartilha a ser seguida. E foi.
2. Como conseqüência disso, a
desigualdade e a concentração de renda caíram mais no primeiro mandato do
governo Lula do que em oito anos de governo FHC. Em 2007, uma pesquisa da FGV
mostrou que somente no primeiro governo Lula, a taxa de miséria caiu quase 8,5
por cento, mais do que o dobro do que ocorreu nos dois mandatos de FHC, que
ficou em 3,1%[1].
3. O PSDB é o partido do grande
empresariado e dos arrochos salariais. As políticas econômicas do governo FHC
estabilizaram a economia, mas em detrimento do poder aquisitivo dos
trabalhadores. Com FHC, a inflação era de 9,2% ao ano, com Lula e Dilma, é de 5,9%[2]. Não por acaso, em 1996 a Folha noticiou
que o governo FHC foi considerado péssimo por 25% da população[3]. Curiosamente, até os mais ricos
demonstraram insatisfação com essa política desastrosa do ex-presidente,
segundo a mesma matéria.
4. O PSDB é o partido das filas de
desempregados. De acordo com o IBGE, o índice de desemprego mais do que dobrou
durante os dois mandatos de FHC como presidente: de 4,5 milhões no final de
1994, foi para 11,5 milhões no final de 2000[4]. Quem não se lembra que quase diariamente
os jornais noticiavam filas quilométricas de desempregados nas grandes capitais
do país apinhando quarteirões, se submetendo a mal-estares resultantes do calor
e de muitas horas de espera, além de inúmeras humilhações para conseguir uma
vaga de emprego? Já o governo petista bateu recordes de redução do desemprego.
Segundo edição de maio da revista Exame, no último mês de abril o
desemprego recuou quase cinco por cento e em março o índice de desempregados
chegava a 1,1 milhão de pessoas[5].
5. Para quem acredita que a
corrupção somente passou a existir nos últimos doze anos no Brasil, vai aí uma
informação bombástica: O governo FHC foi marcado por casos de corrupção não
menos escandalosos. Um deles foi a extinção da Comissão Especial de Investigação
(CEI), logo após assumir o poder em 1995, órgão criado durante o governo Itamar
Franco para investigar denúncias de corrupção no governo federal. De acordo com
a Carta Maior, “foi a primeira experiência de controle social, externo, da
corrupção, em contraposição ao controle corporativo. Era independente e com
amplos poderes para ajudar a sanear a administração Pública Federal. Instalada
em 4 de fevereiro de 1994, tinha poderes para determinar suspensão de
procedimentos ou execução de condutas suspeitas, recomendar investigações,
auditorias e sindicâncias e propor ao presidente da República providências,
inclusive legislativas, para coibir fatos e ocorrências contrárias ao interesse
público[6]“. Além disso, os desvios de verbas na
SUDAM e na SUDENE (extintas somente quase no final de seu mandato, em 2001)
somaram quase R$ 4 bilhões[7], além da existência de caixa dois para
reeleição e denúncias de compra de votos de parlamentares para aprovação da
emenda da reeleição.
6. O PSDB é o partido dos apagões
e do racionamento de energia. Basta ver o que o governo Alckimin faz agora em
São Paulo, sobretaxando consumidores e impondo racionamentos para termos uma
ideia do que virá, ou melhor, do que voltará, se Aécio Neves se tornar
presidente: em 2001 uma crise energética fez o governo pressionar a sociedade a
reduzir em vinte por cento o consumo de energia[8] e apagões passaram a se tornar
constantes no país. Já o governo petista contornou esse problema, evitou novos
racionamentos e apagões e durante a gestão Dilma foi construída a hidrelétrica
de Estreito, no Maranhão, com capacidade para abastecimento de quatro milhões
de pessoas[9].
7. O PSDB é o partido do
sucateamento das universidades públicas. Durante o governo FHC, o ensino
superior privado foi beneficiado em detrimento do público. Nenhuma universidade
federal foi criada, houve defasagem de salários e déficit de professores com
escassas realizações de concursos públicos. Além disso, historicamente o acesso
à universidade sempre foi prerrogativa das elites brancas, acostumada a ver o
pobre na favela, limpando para-brisas de carros em avenidas nas grandes cidades
ou em longínquas escolas públicas de baixa qualidade. Contra esse apartheid social, o governo Lula, além de ter
ampliado e fortalecido as universidades federais, também criou mecanismos para
ampliar o acesso da população de baixa renda, como o Sisu, o FIES, sistema de
cotas sociais e raciais e ampliação de bolsas de estudo nas graduações e
pós-graduações. No governo petista, dezoito universidades federais foram
criadas, mais de 170 novos campi e mais de 400 escolas técnicas. E para os que
dizem que a informação de que no governo Lula aumentaram as matrículas nas
universidades federais é uma farsa, remeto o leitor a esse importante texto do
reitor da Universidade Federal da Bahia: educação superior em Lula x FHC.
8. O PSDB é o partido do
encolhimento dos direitos trabalhistas. No final de seu segundo mandato, FHC
propôs um projeto de alteração da CLT, como a flexibilização de direitos
trabalhistas como o 13º salário, licença maternidade, FGTS, entre outros, além
de uma reforma sindical e uma proposta de tratamento diferenciado a pequenas
empresas[10]. Já o governo petista, além de não ter
subtraído direitos aos trabalhadores, ainda os estendeu a categorias
historicamente marginalizadas, como as empregadas domésticas, que passam a ser
assistidas pela legislação trabalhista.
9. O PSDB é o partido da repressão
aos movimentos sociais. Quem não se lembra do massacre de Eldorado de Carajás,
no sul do Pará, ocorrido em 1996? Por outro lado, as políticas de reforma
agrária de FHC determinavam o não assentamento de famílias que participavam de
ocupação de terra[11] e quando concorreu à presidência em
2002, José Serra prometia em seus programas eleitorais que não permitiria
invasões de terras durante seu governo. Que métodos ele usaria pra isso é algo
que jamais esclareceu. Felizmente, Serra foi derrotado naquele ano. Em doze
anos, o governo petista caracterizou-se por um profícuo diálogo com movimentos
sociais e pela ampliação de políticas afirmativas a minorias sociais.
10. O PT se manteve esses doze
anos no poder porque conseguiu aglutinar interesses diversos, do empresariado e
do povo. O PT se mostrou o único partido que se aproxima de uma
social-democracia ao ampliar as políticas sociais e a renda média dos
trabalhadores para reduzir o abismo social que historicamente caracterizava o
fosso intransponível entre nossas elites e as camadas mais pobres da
sociedade: Em 2004, Tarso Genro observou o seguinte: “Ao potencializar
este programa [o bolsa família], o governo Lula permitiu em quase dois anos, a
distribuição média, de R$ 75,00, por família, atingindo cerca de 6 milhões e
quinhentos mil lares, enquanto no governo FHC, a soma dos programas
incorporados pelo Bolsa Família (Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, Cartão
Alimentação e Auxílio Gás), distribuiu em seus últimos dois anos a média por
família de R$27,00, atendendo a cerca de 5 milhões e setecentos mil lares[12]“. A ampliação das políticas de redistribuição
direta de renda como o bolsa família foram importantes tanto para empresários
como para consumidores, porque aqueceu a economia, facilitou a abertura de
pequenas empresas, ampliando o número de empreendedores e de empregos diretos.
Geralmente os que julgam os programas sociais como “esmola” ou “ação
eleitoreira” ignoram sua importância e seu alcance: para termos uma ideia, a
extrema pobreza, que era de 12% em 2003, caiu para 4,8% em 2008, o que implica
melhorias substanciais na qualidade de vida dessa parcela da população[13] e teve impacto importante na
redução da mortalidade infantil[14]. Além disso, muitos beneficiados
abandonaram voluntariamente a bolsa após melhorarem de vida[15]. O governo tucano focou no empresariado,
manteve as políticas sociais num nível modesto e, como já foi observado, não
conseguiu reduzir de forma significativa as elevadas taxas de desemprego e
extrema pobreza no país.
Conclusão: Em
geral, os peessedebistas não gostam de comparações com o governo Lula ou
Dilma. O fato é que qualquer comparação evidencia o quanto essas duas últimas
gestões foram mais eficientes em termos de política social. Não há dúvida de
que agora as pessoas vivem melhor do que há quinze ou vinte anos atrás. Hoje, o
PT sofre muitas críticas não pelo que fez, mas pelo que deixou de fazer. Ainda
precisamos de uma reforma política, tributária e de melhorias na
infraestrutura do país (esse pacote de investimentos tão prometido antes da
copa e não cumprido). É a precariedade de nossa infraestrutura, somada aos
elevados impostos que pagamos que ainda entravam o crescimento do país. Mas se
isso não tem acontecido com o PT, tampouco acontecerá sem ele. O PAC foi
lançado pra isso, mas a corrupção dos gestores impede que seja cumprido com
êxito. Quanto às melhorias em saúde e educação, vivemos em uma República
federativa e os investimentos nessas áreas são de responsabilidade de Estados e
municípios, que recebem as verbas para isso. O PT pode ter cometido muitos
erros no poder, mas acertou mais do que errou e a popularidade Lula ao deixar o
poder em 2010 prova isso. Hoje não temos mais filas de desemprego e reduzimos
bastante a miséria. Reeleger o PSDB é correr o risco de um retrocesso.
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