Por Que o Crente Sofre?
Copiados
No âmago da
mensagem do livro de Jó, acha-se a sabedoria que responde à questão a respeito
de como Deus se envolve no problema do sofrimento humano. Em cada geração,
surgem protestos, dizendo: “Se Deus é bom, não deveria haver dor, sofrimento e
morte neste mundo”. Com este protesto contra as coisas ruins que acontecem a
pessoas “boas”, tem havido tentativas de criar um meio de calcular o
sofrimento, pelo qual se pressupõe que o limite da aflição de uma pessoa é
diretamente proporcional ao grau de culpa que ela possui ou pecados que comete.
No livro de Jó, o personagem é descrito como um homem justo; de fato, o mais
justo que havia em toda a terra. Mas Satanás afirma que esse homem é justo somente
porque recebe bênçãos de Deus. Deus o cercou e o abençoou acima de todos os
mortais; e, como resultado disso, Satanás acusa Jó de servir a Deus somente por
causa da generosa compensação que recebe de seu Criador. Da parte do Maligno,
surge o desafio para que Deus remova a proteção e veja que Jó começará a
amaldiçoá-Lo. À medida que a história se desenrola, os sofrimentos de Jó
aumentam rapidamente, de mal a pior. Seus sofrimentos se tornam tão intensos,
que ele se vê assentado em cinzas, amaldiçoando o dia de seu nascimento e
clamando com dores incessantes. O seu sofrimento é tão profundo, que até sua
esposa o aconselha a amaldiçoar a Deus, para que morresse e ficasse livre de
sua agonia.
Na continuação da história, desdobram-se os conselhos que os
amigos de Jó lhe deram, Elifaz, Bildade e Zofar. O testemunho deles mostra quão
vazia e superficial era a sua lealdade a Jó e quão presunçosos eles eram em
presumir que o sofrimento indescritível de Jó tinha de fundamentar-se numa
degeneração radical do seu caráter. Eliú fez discursos que traziam consigo alguns
elementos da sabedoria bíblica. Todavia, a sabedoria final encontrada neste
livro não provém dos amigos de Jó, nem de Eliú, e sim do próprio Deus. Quando
Jó exige uma resposta de Deus, Este lhe responde com esta repreensão:
“Quem é este que escurece os meus desígnios com palavras sem
conhecimento? Cinge, pois, os lombos como homem, pois eu te perguntarei, e tu
me farás saber” (Jó 38.2, 3).
O que resulta desta repreensão é o mais vigoroso questionamento
já feito pelo Criador a um ser humano. A princípio, pode parecer que Deus
estava pressionando Jó, visto que Ele diz:
“Onde estavas tu, quando eu lançava os fundamentos da terra?”
(v. 4)
Deus levanta uma pergunta após outra e, com suas perguntas,
reitera a inferioridade e subordinação de Jó. Deus continua a fazer perguntas a
respeito da habilidade de Jó em fazer coisas que lhe eram impossíveis, mas que
Ele podia fazer. Por último, Jó confessa que isso era maravilhoso demais. Ele
disse:
“Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem.
Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza” (42.5-6).
Neste drama, é digno observar que Deus não fala diretamente a
Jó. Ele não diz: “Jó, a razão por que você está sofrendo é esta ou aquela”.
Pelo contrário, no mistério deste profundo sofrimento, Deus responde a Jó
revelando-se a Si mesmo. Esta é a sabedoria que responde à questão do
sofrimento — a resposta não é por que tenho de sofrer deste modo particular,
nesta época e circunstância específicas, e sim em que repousa a minha esperança
em meio ao sofrimento. A resposta a essa questão provém claramente da sabedoria
do livro de Jó: o temor do Senhor, o respeito e a reverência diante de Deus, é
o princípio da sabedoria. Quando estamos desnorteados e confusos por coisas que
não entendemos neste mundo, não devemos buscar respostas específicas para
questões específicas, e sim buscar conhecer a Deus em sua santidade, em sua
justiça e em sua misericórdia. Esta é a sabedoria de Deus que se acha no livro
de Jó.
Obviamente essa resposta tão clara e objetiva á um problema
marcante da vida cristã não satisfaz as mentes frívolas do tipo comum que
perambulam pelo arraial cristão nesses últimos dias. O cristão comum moderno
ingeriu uma fé totalmente materializa mixada com a falsa ciência da psicologia
e ideologias de autoajuda, adaptações exigidas por uma sociedade cada vez mais
humanista. Colher um sofrimento que não se plantou soa absurdo para uma legião
de crentes que foi convencida a acreditar no sofisma de que nasceu para ser
feliz. O crente mediano do século XXI não abre mão de seu bem estar em primeiro
lugar e age como se Deus existisse para servi-lo. Essa é a razão porque o
cristão moderno encontra tremenda dificuldade em compreender como os cristãos
da bíblia conseguiam apresentar um testemunho de nível tão elevado em meio a
dificuldades aterradoras. Se olharmos para o ponto de partida da fé desses
primeiros cristãos então iremos entender o porquê de apesar de verbalizar fé no
mesmo Deus, nossos testemunhos são tão inferiores.
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