segunda-feira, 21 de outubro de 2013

GÁS EM MINAS


                                                    BRASIL É UM PAÍS DO DESCASO.
    Qual quer pais que tivesse a riqueza que o brasil tem, eles fariam o mundo curvar aos seus pés,                                                
                                                       SANTA FÉ DE MINAS E BURITIZEIRO (MG),
Em vez de castigar, a seca faz milagre no vilarejo de Remanso do Fogo, a 500 km de Belo Horizonte. Quando as águas baixam, as bolhas que mitificam trechos do Rio Paracatu se transformam em chamas. De maio a setembro, esquentam os alimentos de famílias como a do pescador Salvandir Barbosa dos Santos. O gás espalhado no subsolo mineiro pode mudar a realidade de 1 milhão de habitantes dos municípios da Bacia do São Francisco.
No sertão das Minas Gerais, a iminente chegada das petrolíferas é vista como a salvação de quem vive sem infra-estrutura às beiras do Velho Chico. 90% da população rural não têm energia elétrica e pisam na solução do gás natural, que serve apenas aos fogareiros, improvisados até em garrafas de refrigerante.
"Compramos bujão, mas pouco. Os colegas que vêm aqui pescar não precisam de fogão na época seca", conta Salvandir, ao lembrar da economia que faz com o dinheiro do gás de botijão. Tem sido assim pelo menos desde 1940, quando o pai dele, recém-chegado da Bahia, fincou os primeiros alicerces de madeira na vila da pacata Santa Fé de Minas.
Salvandir convive com as emanações de gás desde criança, sem alimentar expectativas de ver o município deslanchar. À beira do rio, o rastro de óleo, que compõe a paisagem há décadas, também não cria ansiedade. "Aquilo ali deve ser petróleo, a Petrobras andou cá vendo isso", narra, conformado com o que tem e sem noção do que pode mudar na vida da região com a chegada das empresas.
Enquanto os moradores vivem no ritmo próprio dos sertões, a Petrobras, a multinacional inglesa BG, a brasileira Geobras e o grupo argentino Oïl & MS não perdem tempo: demonstrando apetite inédito, disputaram dezenas de concessões na região, durante o último leilão de áreas de petróleo e gás da Agência Nacional do Petróleo (ANP). O conhecimento do fenômeno natural e a semelhança com a formação geológica da Rússia, maior produtor mundial de gás, fizeram da Bacia do São Francisco a mais atraente de toda a história das rodadas de licitações. Das 43 concessões oferecidas, 39 foram arrematadas. Isso porque só a parte mineira foi a leilão.
Estudo feito por uma das empresas com planos de exploração sob as veredas, a Geobras, apontam para a existência de um trilhão de metros cúbicos de gás natural na Bacia do São Francisco, combustível suficiente para abastecer o Brasil por 60 anos. A projeção é preliminar mas foi suficiente para convencer bancos estrangeiros a financiar a pequena empresa no projeto de exploração de nove áreas da região, com R$ 114 milhões. Falta o aval da ANP para aprovar os documentos da Geobras junto a investidores.
A proximidade com os grandes mercados também empolga os investidores. "Temos Belo Horizonte e, se sobrar, podemos levar o gás a São Paulo", comemora o presidente da BG, Luiz Carlos Costamilan. Parceiro da BG em seis áreas na bacia, o diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Guilherme Estrela, prefere esperar os testes de viabilidade comercial antes de comemorar: "O que temos de concreto, por enquanto, é uma curiosidade geológica".
Os efeitos dessa curiosidade geológica chegam aos animais que daquela água bebem. Na Fazenda do Vale das Aroeiras, no município de Buritizeiro, trabalhadores estranharam o gado que bebia água num dos poços da propriedade. "As vacas ficam empanzinadas quando bebem a água com gás. Não levantam de tão estufadas de gases", conta, às gargalhadas, Jullierme Alves, funcionário da Prefeitura de Buritizeiro.
Alertada por uma explosão na Fazenda das Aroeiras em 1988, a Petrobras furou um poço no local e confirmou a existência de grande volume de gás natural. Desde então, as visitas de estudiosos e empresas não pararam. Lá, é possível assistir a cenas dignas de filmes repletos de efeitos especiais, como fogo sobre a água. Larissa Ferreira, 7 anos, adora acompanhar o pai, Juvercino, ao "poço encantado" que exala bolhas. A facilidade de cozinhar não é a mesma encontrada à beira do Rio Paracatu. No Velho Chico, o gás é tanto que vaza continuamente. No poço de Juvercino, as bolhas aparecem, desaparecem, retornam, se espalham... e a panela demora a esquentar.

O geólogo Wilson Guerra, da Universidade Federal de Ouro Preto, explica que a bacia do São Francisco é uma das mais antigas do mundo. "Antes da Rússia encontrar gás, imaginava-se que não havia reservas sob esse tipo de bacia, mas os russos quebraram esse tabu".
Os proprietários da terra onde os poços são perfurados têm direito a receber de 0,5% a 1% da produção. Um poço no quintal pode render de R$ 1 mil a R$ 30 mil por mês. Juvercino acredita que o patrão, se contemplado, repartirá a riqueza com os empregados, mesmo sentimento de Libânio de Souza. "Estamos esperando pros filhos de Deus olhar e entender que temos que viver também", diz o aposentado, que abriga mulher e sete filhos na casa improvisada de galhos e plástico. Vive a 5 km do São Francisco, mas sofre com a falta d'água. Mora em cima de uma bacia de gás natural, mas não tem luz. Mesmo diante das dificuldades, Libânio se orgulha de ter abandonado a cidade para viver ali: "Quero nada de cachaçada, palavrão, desrespeito na casa dos outros".
O alívio da gente do sertão é que, diferentemente do que acontece na exploração em alto-mar, na qual o destino dos royalties depende das boas intenções das prefeituras e governos estaduais, os donos da terra têm direito a participação direta. Modesta, mas suficiente para lhes dar o básico.

 
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